INSPIRAÇÃO – POR NATANAEL ZANATTA


INSPIRAÇÃO – POR NATANAEL ZANATTA

Natanael Zanatta (Foto: Arquivo Pessoal)

Quando eu estava por volta da 4ª ou 5ª série do Antigo Primeiro Grau (eu já sou antigo assim), visitei a feira de Ciências da minha escola. Vi ali um trabalho conduzido por nossa professora de Geografia, Tânia Dahlen, com alunos de séries mais avançadas. Usando o também antigo “Guia Quatro Rodas”, a “profe” Tânia deu como tarefa, a cada um daqueles alunos, enviar uma correspondência para diversas Embaixadas existentes em Brasília, pedindo que eles enviassem materiais didáticos sobre os respectivos países. Lembro-me dos materiais vindos da Embaixada do Japão, dos Estados Unidos, da África do Sul.

Eu me encantei de tal forma com aquilo, que pedi à profe Tânia que me conseguisse os endereços das Embaixadas, pois eu queria ter materiais como aqueles só pra mim. Ela atendeu meu pedido e, pelos 4 anos seguintes, mantive um Hobby juvenil de escrever “cartas sociais” (cartinha escrita inteiramente à mão, cujo envio para qualquer lugar do Brasil custava apenas 1 centavo).

Lembro-me da primeira resposta: uma pasta plástica vinda da Embaixada do Ira, com diversos mapas, posters e livros, que acabei usando quase 10 anos depois durante a universidade. Eu ficava ansioso por cada resposta e vibrava com cada carta recebida. Já na universidade, com outros livros a ler e precisando de espaço, doei minha “coleção internacional” para o Laboratório de História da Univates.

Passados vinte anos do meu deslumbre pela cultura internacional, lembrei-me daqueles sentimentos, daquela felicidade toda. Compartilho com minha filha Cecília a “doideira” por viagens, novas culturas, estar em lugares que vemos na TV. Juntado as peças, pensei: Será que ela ficaria tão feliz como eu fiquei se mandássemos cartas para as Embaixadas? Na tentativa, arrisquei; não mandei uma carta, e sim um e-mail (já estamos em 2018, poxa!) para a Embaixada da Suíça, pedindo que eles enviassem materiais por Correio, mas com um detalhe: a correspondência devia ser enviada em nome da minha filha. E acreditem: eles mandaram não uma carta, mas uma caixa, por SEDEX, contendo coisas lindas como mapas, livros, um boné, um lenço típico suíço, uma caixa de lápis-de-cor com o nome de personalidades suíças gravado em cada lápis, com as respectivas datas de nascimento e falecimento.

Quando a Cecília abriu a caixa e, com os olhos grandões e curiosos que ela tem, se deslumbrou com o que recebeu, e viu que além de tudo tinha uma carta escrita pelos oficiais da Embaixada direcionada pra ela, eu voltei no tempo, me tornei aquela criança feliz e “embasbacada” que recebia cartas do “mundo inteiro”. A Cecília levou os “apetrechos suíços” para a escola, dormiu com eles, não desgrudou deles, e insistiu: quero mandar mais cartas. E assim fizemos; e enquanto escrevo este texto, tenho em minhas mãos a correspondência que recebemos da Embaixada da Suécia. Está em nome da Cecília, e tem uma carta escrita mais uma vez pra ela. Estou ansioso para rever a carinha de emoção dela quando eu chegar em casa.

Aprendi com a Cecília o que é inspiração. É encontrar uma forma, um caminho, um jeitinho de fazer com que os filhos, alunos, empregados, membros, associados, consigam sentir exatamente aquilo que sentem os pais, os professores, os empregadores, os pastores, os diretores. A tarefa de inspirar é árdua somente até que se encontre o insight, o segredo, o atalho, o caminho; depois, quando eles ficam tão deslumbrados como já ficamos um dia, vem o pensamento: como é que eu não me apercebi disso antes? Inspiração renova a paixão. Sinta; inspire pessoas; seja feliz!

Natanael Zanatta: Advogado Trabalhista, palestrante e professor da Lume Centro de Educação Profissional (LUMECEP).

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